quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Teatro abandonado (Sel & co):
blog abandonado (mas bem que merecia uma restauração)

terça-feira, 29 de abril de 2014

Comunicação é mote do Dia do Trabalhador

Temática é discutida em seminário para estimular luta pela comunicação como direito garantido pela Constituição

São Paulo – A necessidade de democratizar a mídia no Brasil, na mão de poucas famílias, foi discutida na segunda 28, no seminário sindical internacional “Comunicação: O Desafio do Século”, realizado no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Proposta de um novo marco regulatório para pluralidade e diversidade nas comunicações foi debatida pela manhã pelos participantes, professor Venício Lima, membro do Conselho Consultivo da Barão de Itararé,  Sebastian Rollandi, Diretor Nacional de Relações Institucionais e Comunitárias da AFSCA (autoridade federal de serviços de comunicação audiovisual argentina) e  Franklin Martins, ex-Ministro Chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, sob mediação da secretária de comunicação da CUT Nacional Rosane Bertoti.

Na Argentina... Questionado sobre como foi o trabalho de sensibilização da população para a regulação da mídia na Argentina, Sebastian Rollandi afirmou que foi uma propaganda horizontal, voltada a diversos segmentos, com foco no público jovem, na internet, com discussão de modelos comunitários e de publicidade, tendo a universidade um papel muito importante.

Na universidade... Já o professor Venício Lima avaliou que, ao contrário do que ocorreu no país vizinho, onde a universidade teve um a participação direta no processo de ampliação do direito à comunicação, de modo geral a academia brasileira não tem dado a contribuição que deveria, no espírito pregado por Darcy Ribeiro. Ao responder uma pergunta sobre a falta de interesse da academia nas discussões, declarou falta de identificação: “Desses catálogos de congressos da área de comunicação, não me identifico com nada do que está ali”, diz.

No governo... Franklin Martins, questionado sobre os critérios de repasse publicitário governamental para incentivo de publicações que privilegiam a diversidade de conteúdos, defendeu investimento na chamada “mídia técnica” – modelo no qual um grupo de comunicação tem na publicidade estatal a fatia que possui na audiência. “Foi algo que, no governo Lula, tirou o privilégio de grupos. É positiva, mas precisa de atualização, inclusive de plataformas, com a ampliação para a internet”, aponta.

Campanha - Projeto de Lei de Iniciativa Popular das Comunicações poderá ser apresentado ao Congresso Nacional para regulamentar o que diz a Constituição em relação às rádios e televisões brasileiras. Para isso, será preciso apresentar 1 milhão e trezentas mil assinaturas.

Para participar da coleta de assinaturas e para saber mais, clique aqui: http://www.paraexpressaraliberdade.org.br/index.php/2013-04-30-15-58-11



sexta-feira, 16 de novembro de 2012

VIVER SEM MARIANA É IMPOSSÍVEL

O texto que o Rubem Braga fez para o meu mais recente amor.

Foi o timbre especial de uma voz, entre tantas. Voltei devagar a cabeça, enquanto o amigo me falava, e procurei, sem saber por que, localizar a dona daquela voz. Mas o amigo contava uma coisa interessante, e minha atenção voltou para ele. Só, alguns instantes depois, ouvindo, entre vozes de homem uma risada clara de mulher, é que um nome me cruzou a cabeça como um relâmpago e me ergui da cadeira: Mariana!

Ela hesitou um instante, e quando meu nome saiu de sua boca nós já estávamos de pé, e abraçados. Pobre é a vida de um homem; mas é estranho como ele desperdiça riquezas, e nem se lembra mais. Se, passados tantos anos, eu tivesse ido encontrá-la sabendo que iria vê-la, e ela também esperasse me rever, talvez não houvesse essa explosão de carinho tão intensa, que parecíamos, entre os outros que nos olhavam surpresos, dois amantes que tiveram passado anos ansiando um pelo outro, e se buscando em vão. Nãosei se ela sentiu, depois daquela efusão tão grande, a mesma estranheza que eu – se lhe acudiu subitamente a idéia de que antes não éramos tão amigos assim, e não achou estranha a imensa alegria do encontro. Nesse acaso dos encontros do mundo, que mistério é esse que faz se verem frias duas pessoas que se deixaram com muito carinho, e torna contrafeitos amigos de infância, mas também dá esse choque de prazer em velhos conhecidos escassamente cordiais? Ela estava bonita, talvez mais bonita que antes, mais dona de sua beleza. Há adolescentes e até moças que parecem não serem donas das próprias pernas, ou cujos olhos parecem em acaso, ou são inconscientes de seus ombros. Nelas a beleza parece um acidente, a que são, no fundo, estranhas; aconteceram-lhe aqueles ombros. Sabem apenas que são bonitas, mas não tomaram posse de si mesmas, são um fato demasiado recente e ainda instável, como um pássaro que se balança em um galho florido. Nessa mulher madura, a beleza está morando, a beleza não é um acidente fortuito, é sua maneira de ser.

Ela conta suas histórias, eu conto as minhas, mas toda essa multidão de pessoas e fatos que houve durante esse tempo em que não nos vimos tem apenas um sentido vago. Como se a gente entrasse num cinema para ver um filme qualquer e saísse, e então aquelas peripécias de amarguras e alegrias que iam nos interessando de minuto a minuto perdessem todo o sentido, nós dois tornando à rua da realidade. A realidade somos nós dois, amigos felizes de nos encontrarmos. E se movimento de cabeça, o gesto de sua mão ao segurar a minha que lhe apresenta fogo para o cigarro, o timbre de sua voz longamente extraviado, mas nunca perdido em minha lembrança – tudo é um belo reino que de repente recuperei. Somos subitamente ricos um do outro, e conscientes dessa riqueza afetiva, com uma extraordinária pureza.

Quando saímos, e me atraso um momento, e a vejo assim de corpo inteiro, andando, firme e suave na sua beleza, sigo-a um pouco mais devagar, para durante mais um instante ter o prazer de revê-la dos pés a cabeça, antes de lhe segurar o braço de velha amiga e lhe dizer, com uma franqueza instantânea que a faz rir: “Mariana, eu acho impossível uma pessoa viver sem você”. E ela ri e agradece – pois já estamos na idade de poder dizer e ouvir, sem ilusões, as mais simples, e belas, e graves tolices. 

Agosto, 1989 – Rubem Braga