Erotismo versus Pornografia
O Sesc SP embalou no clima de Carnaval e promoveu oficinas e conversas sobre literatura erótica neste fevereiro.Estive em 17/02 no Sesc Pinheiros para ver o que a respeito diriam Ivana Arruda Leite e João Silvério Trevisan.
Considerando-se ambos faces bem diferentes de uma mesma moeda, Ivana mostrou o lado da mulher atormentada e vingativa, cujo erotismo, na acepção corrente do termo, não entrava em sua literatura de maneira “madura”; já João Silvério - cujo Erotismo (sempre aliado à Poesia e ao Sagrado) alinhavou por completo toda sua obra nos altos de seus 64 anos - apresentou a posição complicada de poeta “homo-erótico” , termo que abomina (como eu), numa sociedade hipócrita.
Transcrevo as respostas à minha participação, que não se deu em forma de nenhum strip - eles não sabem o que perderam - mas na seguinte pergunta/inquietação:
Hodierna- Eu queria saber como o humor entra nos textos eróticos. Quando a gente coloca uma pitada de humor, descamba para a pornografia? Qual a diferença de uma coisa para a outra? Essa diferenciação é válida?
João Silvério - Talvez fosse o caso de ler essa introdução do texto, na verdade, é uma discussão assim: nós poderíamos falar de uma arte homo-erótica ou não? Coisa que eu tenho absoluto repúdio por essa idéia. Talvez fosse o caso de eu ler essa introdução em que eu faço uma tentativa de aproximar erotismo e pornografia.
(começa a ler)
O primeiro problema ao se falar em erotismo na literatura são as definições dos dois termos, basicamente subjetivos e discutíveis. Erótico seria o mesmo que pornográfico ou obsceno?Ou haveria xx para uma coisa erótica diferenciar-se de algo pornográfico? Muita gente contrapõe à maior sofisticação estética do erotismo a desleixada representação estética da pornografia. Então, grosso modo, a tendência é classificar o erótico como aquilo que é "bem feito" e pornográfico, aquilo que é "mal feito".
Mas há também quem aponte gradações “sexuais” diferenciando um conceito do outro. O erótico implicaria uma certa “sutileza“, não existente no pornográfico, que tenderia ao chulo. Mas, nesse sentido, poderia se dizer também que o erótico é mais reprimido e o pornográfico mais livre. Significaria portanto que o erotismo apresenta um retrocesso frente à pornografia.
Duvido que seria mesmo xx o erotismo do cântico dos cânticos bíblico que trabalha em cima de metáforas que nada ficam a dever em beleza e expressão na extrema sexualização xxxx. Em compensação, representaçôes de cenas pornográficas da antiguidade nos parecem hoje de uma beleza estonteante. Basta ver os antigos vasos gregos ilustrados com posições sexuais explícitas ou as escandalosas esculturas fálicas das ruínas de Pompéia.
E o Marquês de Sade seria pornográfico por sua extrema crueza? Ou erótico, por sua sofisticação intelectual? Então, por que o erótico não poderia ser extremamente cru sem deixar de ser erótico e o pornográfico mais sofisticado intelectualmente sem deixar de ser pornográfico?
No fundo, tendo a achar que se trata de uma discussão quase bizantina a partir de conceitos forjados de maneira equivocada ou preconceituosa. Da minha parte, posso dizer as duas coisas pois vivo a sexualidade totalmente mesclada. Pois aí está a verdadeira capacidade de subversão do humano: de instalar a poesia no coração da matéria. (texto transcrito a partir de áudio, passível de uma audição incorreta).
(para de ler)
Então não me interessa muito. Acho um pouco perda de tempo fazer essa diferença. Me lembra uma pessoa da minha família que me telefonou furiosa me perguntando por que eu gostava tanto de agredir as pessoas. Eu respondi assim: se meu amor te agride , isso é problema teu, não meu. Porque eu estava falando absolutamente de amor porque eu estava falando de posições amorosas, mas, enfim , com um viés poético levado às últimas consequências, até o ponto de não ter medo de entrar nos detalhes, aparentemente mais sórdidos.
É... Enfim, eu não sei.
Ivana - Eu queria falar sobre o humor, que você falou. Eu acho importantíssimo. Uma das coisas, um dos ingredientes que tornam o erotismo um barato, que eu sei lidar com ele, é quando eu ponho o humor. Então sempre, sempre que posso - que aí eu tenho certeza que eu não estou sendo ... O humor é uma garantia de que meu pé está no chão, entendeu? Que aquilo é uma coisa real, porque, na verdade, eu acho o sexo uma coisa muito risível.
(Marcelino Freire, atrás de mim, começa a gargalhar)
Se você não fala com humor, você não está falando de sexo entre duas pessoas normais.
João - Ana, eu queria fazer uma experiência, ler um poeminha. (todos riem) Eu queria saber se você vai achar risível, mas eu estou dizendo isso a sério - não é para te botar numa saia justa não... A história que me foi contada foi a de um rapaz no Recife que estava me dizendo que ele adorava uma determinada pessoa que era meu amigo e que era amigo dele também, diretor de teatro, e esse diretor de teatro não teria feito ver a diferença entre prepúcio e crepúsculo. Eu falei: esse rapaz acaba de me fazer ter uma vivência epifânica! Inicia a leitura de O prepúcio do crepúsculo.
Ps: Fiz a pergunta após a leitura de Gilda (http://doidivana.wordpress.com/2008/02/26/minicontos-ilustrados-52/) por Ivana.
sábado, 21 de fevereiro de 2009
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Um comentário:
ando ouvindo "Solange tô Aberta" até tocamos, pasmen, uma música do grupo na rádio. tenho vontade de escrever algumas coisas, mas com um certo medo de expor pessoas. mas as vezes dá um avontade de escancarar.
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