Achei que, quanto mais velha ficasse, mais conservadora e saudosista seria. Surpreendo-me a cada dia. Estou adorando produções pós-modernas.
Estou com Susan Sontag, em “O Amante do Vulcão” (The Volcano Lover). Colocando personagens reais em situações fictícias, deparo-me com Goethe em Nápoles em jantares que nunca existiram e construo características fantasiosas de personalidades históricas. Continuo a achar isso péssimo para a historiografia, mas agora vejo, para a literatura é ótimo! A escrita é leve. Um romance que não precisa ser lido de um dia para o outro. Um texto que nos prende apenas no momento em que o lemos.
No fim de semana, assistimos “O Homem Urso” (Grizzly Man), de Werner Herzog. Outra obra pós-pós.
Bom, a produção foi vendida para uma TV americana como um documentário, segundo fontes confiáveis. Trata da vida de Timothy Treadwell, um ambientalista que se meteu por treze anos num parque no Alasca junto com ursos ferozes para, supostamente, defendê-los. De quem? Não sei. O desfecho é que Treadwell morre, ele e sua namorada Amie Huguenard, comidos por um urso velho, em 2003.
Treadwell levava uma vida junkie, não era exatamente um sucesso com as mulheres, e, por todos os percalços da vida mundana, decidiu se juntar àqueles animais no fim dos anos 1980. Seu nome não era Johnny.
Levava uma câmera com a qual narrava suas “conversas” com seus amigos ursos e com suas queridas raposas. Imagens espetaculares.
As cenas do ataque não foram filmadas. Segundo depoimento de legista (sem nome), a câmera estava na barraca com a lente coberta e, além disso, com um sapato na frente da máquina. De acordo com o filme, o áudio foi gravado - mas, não foi mostrado.
O cineasta alemão, segundo tais fontes confiáveis, é bastante influenciado por Orson Welles. Não é para menos.
Para mim, tudo ali é pura ficção. Basta pegar a cena do capítulo três no DVD e ver que existe uma galera no ponto indicado abaixo.
Assistindo em slow e em zoom, note que uma das pessoas (a que está mais a frente, de camiseta azul) solta um pássaro preto, grande e desajeitado. Treadwell não está sozinho. Portanto, ele nunca existiu! Fantástico.
Logo depois, quando o urso ameaça o atacar, indo a sua direção, não há proporcionalidade. O urso é tão pequeno que se esconde na frente da personagem. A luz do sol está incidindo em ângulos diferentes no urso (que está num fim de tarde) e em Treadwell (que está com o sol mais acima).
Tudo isso é proposital. Quem não vê que o médico legista e os amigos de Treadwell são atores, saem do cinema impressionados. Quem vê que é tudo mentira, também gosta da sacanagem que o diretor aplica nos espectadores. Legal essa era de simulacros, BBBs e etc.
segunda-feira, 10 de março de 2008
Herzog, simulacro e pipoca: a descoberta da diversão
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Um comentário:
Não gosto de cinema, mas todo sábado frequento um projeto existente na cidade. O único filme que vi do herzog foi um que ele rodou na amazônia, e mesmo assim só assisti alguns trechos porque porque notei que alguém do meu trabalho me viu e tive de sair de fininho. (risos)
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