quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Amianto: o pó assassino

ENTREVISTA FERNANDA GIANNASI

Luta contra o uso do mineral vai contra grandes interesses econômicos

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 100 mil morrem por ano devido a doenças respiratórias e câncer causados pelo contato com o amianto, que é largamente usado na indústria. O amianto é uma fibra mineral utilizada em telhas, caixas d’água, pastilhas de freio etc.

Recentemente, o movimento anti-amianto ganhou força. Em decisão histórica, o Supremo Tribunal Federal confirmou a proibição do amianto no estado de São Paulo, em 4 de junho. O uso e comercialização do amianto já são proibidos em estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e em países como Argentina, Chile, Uruguai e na União Européia.

Leia entrevista com Fernanda Giannasi, símbolo da luta contra o amianto. Fernanda Giannasi, 50 anos, já ganhou diversos prêmios nacionais e internacionais por sua atuação contra o uso do mineral.

Amianto mata!

Engenheira e auditora fiscal do Ministério do Trabalho, Fernanda Giannasi já sofreu inúmeras ameaças pelo empenho com que lida contra grandes lobbies do amianto.


Fundadora da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA) e coordenadora da Rede Virtual Cidadã pelo Banimento do Amianto na América Latina, Fernanda atua junto a trabalhadores expostos ao mineral. Muitos trabalharam em fábricas como Brasilit e Eternit, em São Caetano do Sul e Osasco. Dos que estão vivos, ainda padecem de doenças lentas, progressivas e incuráveis causadas pela fibra.

Além de propor ações judiciais em defesa das vítimas, as entidades das quais Fernanda participa buscam conscientizar a população em geral, trabalhadores e opinião pública, sobre os riscos do amianto.

1) Por que as doenças causadas pelo amianto não são conhecidas pela população?

Porque nunca houve interesse das indústrias que as doenças fossem divulgadas, especialmente aquelas de caráter maligno (como o câncer de pulmão e o mesotelioma de pleura, peritônio e pericárdio) e por conta também da omissão de nossas autoridades sanitárias, que nunca fizeram uma busca ativa de casos entre trabalhadores e ex-empregados expostos e junto à população.


Em geral, as indústrias tentam descaracterizar o nexo causal, isto é, o vínculo entre a doença e o seu agente causador, atribuindo a outros fatores, como por exemplo, ao hábito de fumar etc.

2) Quais são as dificuldades encontradas pelo movimento para a extinção completa do uso e comercialização do produto? Existem materiais substitutos?

Há muitos interesses econômicos em jogo e atualmente também interesses de governo, já que a maior empresa da América Latina e uma das maiores mineradoras de amianto do mundo é controlada pelo Fundo de Pensão do Banco Central e Fundos de Participação Societária do BNDES. (refere-se a SAMA, do grupo Eternit, localizada em Minaçu, norte do estado de Goiás)


É um dos lobbies industriais mais eficientes que se conhece, comparado ao do cigarro. Eles produzem até uma ciência própria para negar que seus produtos façam mal à saúde da população e se servem de pesquisadores venais, que vêem aí a oportunidade de engrossarem seus magros salários das universidades públicas e entidades de pesquisas governamentais de nosso país.

Há diversas tecnologias e produtos que substituem o amianto e disponíveis no mercado brasileiro.

3) Como você vê essa discussão no Brasil hoje? As campanhas anti-amianto têm surtido efeito?

Após histórica decisão proferida pelo STF em 4/6/2008, quando julgou que a lei paulista para proteção da saúde e dignidade da pessoa humana é constitucional, isto é, é legal e está válida, o debate no Brasil sobre o amianto é outro e antevemos para muito em breve seu banimento.


Tememos que o governo Lula ainda queira dar sobrevida para esta empresa nacional e estatal, mas iremos fazer forte pressão para que o prazo para o fim do amianto seja "para ontem", considerando os danos que ainda ocorrerão nos próximos 50 anos - mesmo parando a produção nos dias de hoje.

Portanto, o amianto está em seus estertores e com certeza as campanhas anti-amianto têm surtido efeito. As mais recentes são a total interação das vítimas com o público nos parques municipais de São Paulo onde estamos levando a campanha AMIANTO MATA! com o total apoio da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo.


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